Vivemos
cercados de pregações que disseminam um evangelho pragmático que afirma
intempestivamente que o cristão tem que obter sucesso em tudo o que
intente fazer. O verdadeiro cristão, aquele que tem fé, deve ser a
versão moderna do lendário Rei Midas que transformava em ouro tudo o que
tocava, literalmente!
O
cristão moderno é ensinado que o seu objetivo é a glória e o reino
deste mundo, ou seja, aquilo que foi oferecido por Satanás a Jesus por
ocasião da tentação no deserto (Mt 4.8-10). Para isso deve alcançar
prosperidade financeira e saúde física para usufruir dos seus bens
materiais. Não pode (a menos que não tenha fé suficiente para sair desta
situação) passar ou permanecer em tribulação.
Esse tipo de ensinamento coloca TODOS OS APÓSTOLOS DE JESUS numa situação classificada obrigatoriamente como FRACASSADOS,
já que, na sua visão, Jesus teria sofrido como um fracassado na cruz,
para que nós, por seu intermédio, pudéssemos desfrutar de uma “vida
vitoriosa”. Mas essa “vida vitoriosa” não foi desfrutada nem mesmo pelos
apóstolos de Jesus. Pior: por esse ponto de vista a sua vida
ministerial e pessoal, foi um fracasso total. Vejamos:
- PAULO, considerado apóstolo do gentios por causa da sua grande obra missionária nos países gentílicos, foi decapitado em Roma por ordem de Nero;
- MATIAS, que ficou no lugar de Judas Iscariotes, foi martirizado na Etiópia;
- SIMÃO, o zelote, foi crucificado;
- JUDAS TADEU morreu como mártir pregando o evangelho na Síria e na Pérsia;
- TIAGO (o mais jovem), pregou na Palestina e no Egito, sendo crucificado;
- MATEUS morreu como mártir na Etiópia;
- TOMÉ pregou na Pérsia e na Índia, sendo martirizado perto de Madras, no monte de São Tomé;
- BARTOLOMEU serviu como missionário na Armênia, sendo espancado até a morte;
- FILIPE pregou na Frígia e morreu como mártir em Hierápolis;
- ANDRÉ pregou na Grécia e Ásia Menor. Foi crucificado;
- TIAGO (o mais velho) pregou em Jerusalém e na Judéia. Foi decapitado por Herodes;
- SIMÃO PEDRO pregou entre os judeus chegando até a Babilônia, esteve em Roma, onde foi crucificado com a cabeça para baixo;
- JOÃO foi o único que não morreu martirizado, nem por isso teve vida mais fácil que os demais apóstolos: foi exilado na inóspita ilha de Patmos, onde sofreutorturas horríveis, mesmo escrevendo as últimas profecias para a humanidade. Obteve, após muito sofrimento, a liberdade e morreu de morte natural.
Segundo a visão neopentecostal, que já permeia igrejas antes tradicionais, esses foram homens fracassados em
sua missão como cristãos aqui no mundo, pois não obtiveram riquezas
pregando o evangelho, e sofreram demasiadamente, a ponto de serem mortos
por amor á missão e aos homens.
Afinal, o que houve de errado com os apóstolos? E os lemas "Pare de sofrer"; "Vida vitoriosa para você";
O neopentecostalismo tem que rever os seus conceitos de “prosperidade” e de “vida vitoriosa” ou procurar adaptar respostas para estas perguntas:
- Cristo não sofreu por eles na cruz (Cl 2.14)?
- Prosperidade e riquezas haveria em suas casas (Sl 112.3)?
- Por suas pisaduras os apóstolos também não seriam sarados (Is 53.5; 1Pe 2,24)?
- Eles também não eram, em Cristo, mais que vencedores (Rm 8,37)?
- Semearam pouco e por isso, pouco ceifaram (2Co 9,6)?
- Eles não podiam todas as coisas naquele que os fortalecia (Fp 4,13)?
- Deixaram de “dizimar” e fazer prova de Deus para receber bênçãos sem medida (Ml 3,10)?
- Não eram como árvore plantada junto a ribeiros de água, e tudo o que faziam prosperaria (Sl 1,3)?
- Cristo não veio para que eles tivessem vida, e vida em abundância (Jo 10,10)?
- Eles não prosseguiram para o alvo, pelo prêmio da sua soberana vocação (Fp 3.14)?
Isso
demontra como esses versículos são retirados do seu contexto e
arremessados em direção aos incautos. Não quero pregar uma teologia da
miséria e do sofrimento, porém, quero demonstrar que é enganoso pregar
um evangelho isento de sofrimentos para os justos e repleto de bênçãos
para ofertantes financeiros. Pobreza, enfermidades e aflições podem, muito bem, fazer parte da vida de um cristão justo e fiel.
Riqueza não é sinônimo de bênção e nem pobreza é maldição. O cristão
deve saber viver bem em ambas as condições, confiando em Cristo acima de
todas as dádivas e além de todas as aflições:
"E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me" (Mc 8.34).
"Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" (1Co 15.19).
"Por isso sinto prazer nas fraquezas,
nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por
amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte" (2Co 12.10).
“Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade” (Fp 4.12).
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu,
onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam
nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o
vosso coração” (Mt 6.19,21).
“Ninguém
pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro,
ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a
Mamom. Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida,
pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao
vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? (Mt 6.24,25).
“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15).
“Vendei o que tendes, e dai esmolas.
Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca
acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o
vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”(Lc 12.33,34).
“Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”(Lc 14.33).
“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Mc 10.25).
"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33).
“Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação,
e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem
os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de
toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se
traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (1Tm 6.7-11).
“Que façam bem, enriqueçam em boas obras,
repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si
mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida
eterna” (1Tm 6.18).
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo." (Rm 14.17).
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13.5).
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