SERÁ QUE A FELICIDADE É UM DIREITO?
Uma
característica muito forte na criança é a busca do prazer. Ela quer
apenas o que é agradável. Um exemplo simples, banal mesmo: legumes e
verduras não são agradáveis. Doces, sim. Também para o adolescente:
fazer os deveres da escola não é agradável. Perder-se em banalidades
pelo celular é.
De adultos espera-se noção de dever e senso de responsabilidade. Trocar
fraldas e limpar bebês não é a coisa mais cheirosa do mundo. Mas as
mães fazem isso. Ser adulto é saber que a vida é algo mais que buscar
prazer. Por isso, uma das frases mais tolas que li é “Todo homem tem direito à felicidade”.
O que é felicidade? Para o viciado, uma pedra de crack, uma picada,
mais um gole. Para o sádico, causar dor a alguém. A felicidade do
atacante é a dor do goleiro adversário.
O alvo da vida é ser feliz? Isso explica o caos do mundo: o egoísmo, a indiferença aos sofredores, o luxo sibarita diante da fome alheia.
Um lar desfeito por que o marido acha que tem direito a ser feliz e
larga a esposa e filhos para viver com uma sirigaita mais nova. Ou
por que a moça não assume que é mãe e deve viver nova realidade; ainda
quer ser “gatona” e “curtir a vida”. Avultam casos de bebês largados por
mães que foram ao baile, no seu direito de felicidade. Esta postura
infantil de tantos adultos tem produzido um mundo miserável, onde a
piedade escasseia e a mesquinhez cresce.
Isso acontece no evangelho.
As pessoas não consagram mais a vida ao serviço de Deus. Ele existe
para torná-las felizes. Elas não mais servem à igreja nem se engajam
nela para serem úteis. A igreja se torna um espaço social onde exibem
sua vaidade e buscam reconhecimento. Se não os obtêm, passam a falar mal
da igreja, alheiam-se ou buscam outra. Nunca vi um crítico contumaz de
igreja exibir vida espiritual exuberante. Espalham mal estar por onde
passam, cheias de ranço.
Ao
lavar os pés dos discípulos, Jesus ensinou uma grande lição: mostrou-se
como servo, realizando uma tarefa baixa, de escravo. E disse: “Se eu,
Senhor e Mestre, lavei os vossos pés, também deveis lavar os pés uns dos
outros” (Jo 13.14). Ele disse que “não veio para ser servido, mas para
servir…” (Mc 10.45). E
sinalizou a vida rica, abençoada e feliz: a que é útil, a que serve.
Felicidade é um subproduto de utilidade. Quem tem uma vida útil, que
beneficia aos outros, é uma pessoa realizada. Quem só quer receber é
como as filhas da sanguessuga: “Dá! Dá” (Pv 30.15). Nunca se satisfará.
O
reino de Deus carece de mais cristãos adultos e menos bebês
espirituais. Carece de gente que queira ser útil e queira servir. Que
critique menos, que não queira visibilidade e importância, mas que
entenda a lição de Jesus: nós nos realizamos na autodoação à obra e aos
outros.
“Ninguém
busque seu próprio bem, e sim o dos outros” (1Co 10.24). Adultos
espirituais e emocionais são felizes. Bebês espirituais não são
engraçados e dão muito trabalho!
Autor: Pr. Isaltino Coelho
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